quarta-feira, 2 de julho de 2008

carta (o princípio)

Ao Ilmo Sr. Prefeito da Cidade do Recife,

Sr. João Paulo

O presente documento vem representar os interesses de músicos e profissionais da área junto à administração pública municipal da cidade do Recife - especificamente a Secretaria de Cultura - no que diz respeito à Coordenadoria Musical.
Fatos publicados recentemente nos jornais da nossa capital, em reportagens relativas à organização do carnaval do Recife, demonstraram a insatisfação de vários músicos e grupos musicais de estilos diversos com relação à política cultural implementada pela supracitada coordenadoria.

As reclamações partiram de todos os lados, desde artistas da nova geração até nomes de peso, que fazem parte da história do carnaval do Recife.
Esses fatos apenas vieram dar visibilidade a um problema que vem desde o início desta administração. As ações e o discurso do coordenador de música da secretaria de cultura do Recife, revelam um descompasso lamentável, tanto com as políticas culturais propostas pelo Partido dos Trabalhadores, quanto com as expectativas dos profissionais que trabalham para construir um mercado local auto-sustentável.

Com relação ao discurso, as declarações do Sr. Zé da Flauta para o Diário de Pernambuco denunciam sua falta de compromisso com as linhas gerais que orientam as ações culturais propostas pelo PT: “O que está na mídia e o que está na moda é o que o povo quer. Esse é um dos critérios”, diz o coordenador. Já o coordenador nacional do programa de cultura do PT, Sr. Hamiltom Pereira, em entrevista à revista Arte Futura (Brasília, Dezembro de 2002) apresenta critérios bem diversos: “Vivemos no Brasil um processo de homogeneização e de empobrecimento da criação cultural promovido pelo mercado. Não podemos entregar ao mercado a formação da nossa juventude”, diz o Sr. Pereira.

Na prática, o que vem acontecendo é uma política clientelista que tem, muitas
vezes, privilegiado artistas que em nada contribuem para a afirmação da identidade cultural de nossa cidade, em detrimento de valores locais, alguns com carreira consolidada, e que já levaram o nome do Recife para além das fronteiras do estado e até a outros países.

A forma intransigente, antidemocrática e por vezes até desrespeitosa com que o Sr. Zé da Flauta tem tratado dos assuntos da referida coordenadoria, vêm causando um afastamento da classe e um conseqüente prejuízo político para a atual administração, qual seja, a insatisfação de um número cada vez maior de artistas e profissionais da área de música que, de alguma forma, em algum momento se viram prejudicados.

Ao dar preferência aos artistas de expressão nacional (eixo Rio-São Paulo)
nas contratações, pagando cachês altíssimos e oferecendo infra-estrutura muitas vezes superior ao que é oferecido aos artistas locais, o que está se fazendo é dar continuidade a uma relação provinciana que nos foi incutida por uma mídia que atende
exclusivamente a interesses comerciais e de mercado.

Em resumo, a política colocada em prática pelo Sr. Zé da Flauta, ao invés de incentivar e promover o desenvolvimento de um mercado musical forte em nossa cidade, cria sérios obstáculos para a formação do mesmo.

Diante de todos os fatos apresentados, nós músicos e profissionais da área firmamos o presente documento, esperando do Sr. Prefeito João Paulo a atenção para estas questões urgentes, e que seja aberto o diálogo para a definição de uma política cultural coerente e transparente nas suas ações e discurso.



Recife, 25 de Março de 2003

Nenhum comentário: